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A DESTRUIÇÃO DO MEIO AMBIENTE E A PROLIFERAÇÃO DE NOVAS DOENÇAS

Estudos científicos publicados no fins da  década de 1990 do século passado, já alertavam que na medida que populações desmatam e degradam as florestas, o risco de micro-organismos – até então em equilíbrio – migrarem para o cotidiano humano e fazerem vítimas é a consequência prática destas ações. Na ocasião o Dr. Pascal Boireau, diretor do laboratório animal da Anses (Franças) ) explicou  o aparecimento do vírus nipah, que 1998 , que afetou centenas de pessoas na Malásia e na Índia e para qual a ciência ainda hoje não tem remédios e nem fabricou vacinas, esse vírus mortal e é um claro exemplo dos riscos que a  destruição dos habitat naturais dos animais selvagens podem afetar os humanos. O vírus nipah  é uma doença zoonotica que se originou dos porcos para humanos após esses terem sido infectados por morcegos.

A doutora em Ecologia Ana Lúcia Tourinho da Universidade Federal do Mato Grosso é mais enfática; “Quando um vírus que não fez parte da nossa história evolutiva sai do seu hospedeiro natural e entra no nosso corpo é o caos. Está aí o novo coronavírus esfregando isso na nossa cara”.

“O novo coronavírus se alastrou pelo mundo graças à ação destrutiva e invasora do ser humano contra a natureza, afirma o pesquisador Allan Carlos Pscheidt, doutor em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente e professor das Faculdades Metropolitanas Unidas, em São Paulo.

O organismo que causa a covid-19 está há tempos no meio ambiente, provavelmente alojado em morcegos nativos de cavernas intocadas, segundo o professor. Com a crescente urbanização e consequente invasão humana, porém, o vírus quebrou seu ciclo natural e alcançou outros seres, como o homem, cujo organismo ainda não está preparado para combatê-lo.

Ameaças crescentes 

Os surtos de doenças transmitidas por animais e outras doenças infecciosas como Ebola, HIV, SARS, nipah, gripe aviária  e agora o COVID-19, causado por um novo coronavírus, estão aumentando. Os patógenos estão passando de animais para humanos, e muitos agora podem se espalhar rapidamente para novos lugares. O Centro  para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) estima que três quartos das doenças “novas ou emergentes” que infectam seres humanos se originam em animais não humanos.

Algumas, como a raiva, a peste, a febre amarela, atravessaram o fosso entre animais e homens há séculos. Outras, como o vírus de Marburg, que se acredita serem transmitidos por morcegos, ainda são raras. E outras,  como a COVID, que surgiu em Wuhan em 2019  na China, e o MERS, que está ligado a camelos no Oriente Médio ainda carecem de muitos estudos.

Outras doenças que alcançaram o homem incluem a febre de Lassa, que foi identificada pela primeira vez em 1969 na Nigéria; a Nipah, da Malásia; e a SARS, da China, que matou mais de 700 pessoas e viajou para 30 países em 2002-03. Alguns vírus, como o zika e o vírus do Nilo Ocidental, que surgiu na África, sofreram mutações e se estabeleceram em outros continentes.

Kate Jones, que é  chefe do departamento de ecologia e biodiversidade do University College London, na Inglaterra, chama as doenças infecciosas emergentes de origem animal como “uma ameaça crescente e muito significativa para a saúde, segurança e economias globais, se as ações destrutivas humanas não forem prevenidas, novas pandemias são inevitáveis”.

As novas doenças não se dão somente pela contaminação direta via zoonoses, o impacto negativo do homem no ambiente tem relação direta com a saúde, uma vez que necessitamos dos componentes do meio ambiente para a nossa sobrevivência. É impossível sobreviver sem acesso à água e ao ar, por exemplo. Se esses elementos estão comprometidos, poluídos nossa saúde também ficará.

A poluição da água causa diversos problemas de saúde, principalmente gastrointestinais, como o surgimento de diarreias. Além disso, podemos citar a cólera, a hepatite A, a giardíase e a febre tifoide como doenças causadas pela ingestão de água contaminada e que possuem relação direta com ações inadequadas do homem, como lançamento de poluição industrial e residencial em rios.

A poluição atmosférica também afeta diretamente a saúde, causando danos, principalmente, no nosso sistema respiratório. A poluição do ar está relacionada com o aumento dos casos de doenças respiratórias como asma, bronquite e câncer de pulmão.

O desmatamento também pode levar ao surgimento de doenças em uma população. Isso ocorre porque, ao desmatar, estamos destruindo o habitat de várias espécies, que passam a procurar abrigo e comida nas áreas habitadas pelo homem. Entre esses animais, podem ser encontrados vetores de doenças, como certos insetos.

Mudança de Comportamento

“Invadimos florestas tropicais e outras paisagens selvagens, que abrigam inúmeras  espécies de animais e plantas. E dentro dessas criaturas havia tantos vírus desconhecidos”, escreveu recentemente no jornal The New York Times David Quammen, autor de “Spillover: Infecções animais e a próxima pandemia”.

“Há apenas uma ou duas décadas, acreditava-se amplamente que florestas tropicais e ambientes naturais intactos, repletos de fauna exótica, eram uma ameaça ao ser humano, pois abrigavam  vírus e patógenos que causam  novas doenças,”.

“Hoje, porém, vários pesquisadores pensam que é realmente a destruição da biodiversidade pela humanidade que cria as condições para o surgimento de novos vírus e doenças como o COVID-19,. De fato, está emergindo uma nova disciplina, a saúde planetária, que se concentra nas conexões cada vez mais visíveis entre o bem-estar dos seres humanos com o estado de  outros seres vivos, e até de ecossistemas inteiros.”

“Cortamos as árvores; matamos  ou os engaiolamos os animais selvagens, e os enviamos aos mercados para serem consumidos. Rompemos os ecossistemas e liberamos os vírus de seus hospedeiros naturais. Quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Muitas vezes, este seremos nós.”

Atitudes  de preservação do meio ambiente podem trazer grandes benefícios para a saúde de todos ,garantindo as melhores condições de vida das gerações futuras.

Fontes-  NY Times, DW Natureza, Scientific American Brasil

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