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Transformar Hábitos: Uma Revolução possível na Reciclagem Domiciliar no Brasil

Por Denisson Silva

Em um mundo onde a sustentabilidade se tornou uma necessidade urgente, a gestão eficaz dos resíduos sólidos emerge como uma das principais preocupações ambientais. O Brasil gera 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) por ano. No mundo, são gerados 2,1 bilhões de toneladas de resíduos, e, mantendo o ritmo atual, essa quantidade deve aumentar em 80% até 2050, alcançando 3,8 bilhões de toneladas. Esses resíduos incluem restos de alimentos, plantas, varrição, papelão, vidro, plástico, metais, madeira, couro, isopor, borracha, roupas e calçados, pilhas e baterias, produtos elétricos e eletrônicos, lâmpadas, remédios, entre outros. Todos esses materiais utilizaram recursos naturais, trabalho e energia para serem produzidos e transportados.

A maioria dos resíduos produzidos vai para aterros sanitários, mas cerca de um terço de tudo o que é descartado pelos brasileiros acaba em lixões a céu aberto, córregos, lagos, rios e oceanos, deixando um rastro tóxico que contamina o solo e a água, prejudicando a saúde humana e o meio ambiente. Afetando a economia das cidades, os custos com a cadeia de resíduos, em 2020, foram de R$ 30,5 bilhões, majoritariamente de recursos públicos municipais.

A Importância da Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil

No Brasil, apenas 4% dos resíduos coletados são reciclados. A reciclagem enfrenta desafios significativos, apesar do consenso sobre sua importância. Para enfrentar essa questão, é essencial que transformemos nossos hábitos diários, começando pela separação seletiva do lixo em nossos próprios lares.

Desafios da Reciclagem no Brasil

A Importância de Mudar o modelo e adotar novos Hábitos

Atualmente, a maioria dos brasileiros acondiciona seus resíduos em sacos plásticos comuns ou nas “sacolinhas de supermercado”. Esses sacos e sacolinhas são coletados pelo serviço de limpeza urbana municipal e, na maioria das vezes, são levados diretamente aos aterros sanitários. Embora esse modelo seja amplamente adotada nas cidades brasileiras, ele não contribui para a reciclagem eficaz dos resíduos.

Dados empíricos da disponibilidade nos mercados em Belo Horizonte revelam que os sacos de lixo disponíveis para os consumidores são predominantemente das cores preta, verde e azul, vendidos em embalagens que variam de 5 a 100 unidades. A uniformidade das cores e a falta de instruções específicas para separação seletiva dificultam o processo de reciclagem na principal fonte, que são nossas residências.

O hábito é uma ação repetida com regularidade, moldada por fatores temporais, situacionais, culturais, entre outros. Um exemplo recente de mudança de hábito significativa foi a crise hídrica de 2014-2015 na região Sudeste do Brasil. Durante a crise, a população reduziu drasticamente o consumo de água e manteve esse comportamento mesmo após o fim da estiagem. Esse exemplo ilustra como um hábito individual pode se transformar em uma prática coletiva com impactos duradouros.

O Poder da mudança do Hábito para a Reciclagem

Charles Duhigg, em seu livro “O Poder do Hábito”, descreve o ciclo de formação de um hábito como um loop de três etapas: a deixa, a rotina e a recompensa. Aplicando esse modelo à reciclagem domiciliar, podemos incentivar a separação dos resíduos de maneira eficaz:

A Deixa: Processo educativo informativo e ter a disponibilização nos mercados de sacos de lixo nas cores específicas para cada tipo de resíduo em conformidade com a Resolução 275 do Conama de 25 de abril de 2001.

A Rotina: Separação dos resíduos domiciliares de acordo com sua categoria nos saco da cor apropriada para cada resíduo, e disponibilizá-los para coleta.

A Recompensa: Fazer parte da solução ambiental, contribuindo para a redução de resíduos nos logradouros, rios e lagos, e aumentando a vida útil dos aterros sanitários, além de promover a economia através da reciclagem.

Adaptando a Prática popular no acondicionamento dos Resíduos

Como mencionamos, a população, de forma geral, reutiliza as “sacolinhas de supermercado” como sacos de lixo. Esse é um hábito popular que não irá mudar. Precisamos adaptá-lo de forma a contribuir com o mecanismo de separação dos resíduos para reciclagem.

1. Regulamentação das “Sacolinhas de Supermercado”: essa atitude gerará um forte impacto educacional. Ter informações nas sacolinhas será uma forma de induzir os consumidores a direcionar os diferentes resíduos na hora da reutilização da sacolinha. A regulamentação deve estar em acordo com a Resolução 275 do Conama.

2. Processo educativos usando as “Sacolinhas” como meio: por exemplo, adotando uma tarja informativa e explicativa na lateral das “sacolinhas”, sugerindo sua reutilização para o acondicionamento de um resíduo específico. Essa medida é um mecanismo poderoso e de grande alcance.

Implementando a Mudança: Propostas Práticas

Para transformar a gestão de resíduos no Brasil, é necessário adotar uma abordagem que leve em consideração a regulamentação, os hábitos populares, a educação e a organização comunitária:

— Regulamentação do Fornecimento de Sacos de Lixo: A indústria deve oferecer ao mercado sacos de lixo que atendam aos critérios de cores conforme a Resolução 275 do Conama, para a separação adequada dos resíduos.

– Inclusão os Catadores nos Custos de Recolhimento: Os municípios devem recompor os custos dos gastos com o recolhimento dos resíduos e incluir os catadores, estabelecendo valores a serem pagos pela proporção quantitativa dos lixos recolhidos nas ruas da cidade.

Conclusão

Ao adotar um modelo de disposição seletiva dos resíduos domiciliares, não apenas promovemos a reciclagem, mas também criamos uma nova cultura de sustentabilidade. A regulamentação do fornecimento de sacos de lixo nas cores da resolução do Conama e a organização dos catadores são passos cruciais para atingir esse objetivo.

Este modelo não só facilita a separação dos resíduos na fonte, mas também engaja a sociedade em um hábito saudável e essencial para o meio ambiente. Ao transformar a maneira como lidamos com nossos resíduos, podemos reduzir a quantidade de lixo enviado aos aterros, diminuir os focos de doenças e promover um nicho econômico significativo no setor da reciclagem.

Com a colaboração de todos – governo, empresas, catadores e cidadãos – podemos construir um futuro mais sustentável e limpo para o Brasil. A mudança começa em nossas casas, e juntos, podemos fazer a diferença.

Autor- Denisson Silva, Gestor Público e especialista em Poder Legislativo e Políticas Públicas.

Contato: denissonsbh@gmail.com

Este artigo visa promover a conscientização e a mudança de hábitos em prol de um meio ambiente mais saudável.

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