O que é um AVC .
O acidente vascular cerebral (AVC) manifesta-se quando um vaso sanguíneo que fornece oxigénio ao cérebro rompe (hemorragia) ou fica obstruído (isquemia). Podemos assim, de forma muito simples, agrupá-los em AVC hemorrágico e AVC isquémico. Quando isto acontece, o oxigénio não consegue chegar às células, provocando a morte de células cerebrais.
Estima-se que, a cada ano, 17 milhões de pessoas sejam vítimas do AVC. Entre elas, mais de 6 milhões morrem e aproximadamente 5 milhões sobrevivem com sequelas que dificultam a independência funcional no dia a dia.
Também conhecido como “derrame”, “embolia cerebral”, “trombose cerebral”, “ictus” ou congestão, o Acidente Vascular Cerebral é a segunda causa de morte no mundo, após doenças cardíacas
Importância da reabilitação após um AVC
O AVC – Acidente Vascular Cerebral – é uma das causas mais frequentes de mortalidade e de comorbidades a nível mundial, sendo o AVC é um dos fatores mais importantes de incapacidade crónica.
O doente sobrevivente a um AVC pode apresentar múltiplos défices neurológicos (motores, sensoriais, cognitivos, …) e graus de incapacidade variável, desde quadros ligeiros até à dependência total. De modo a minimizar o impacto da doença e potencializar o tempo e a qualidade da recuperação, é fundamental disponibilizar o acompanhamento médico adequado e instituir um Plano Terapêutico de Reabilitação de forma efetiva.
A reabilitação é, idealmente, um processo organizado, estruturado, focado no doente e orientado por objetivos. A gravidade das complicações e tempo de recuperação variam de pessoa para pessoa, no entanto, a evidência demonstra que os doentes que são acompanhados e que integram um programa multidisciplinar de reabilitação pós AVC, apresentam uma melhor evolução e recuperação funcional do que aqueles que não participam.
O programa de reabilitação deve ser iniciado o mais precocemente possível após o evento vascular cerebral, de modo a minimizar os impactos, melhorar a função e a autonomia, e facilitar a (re)integração sociofamiliar e profissional. São definidos objetivos a curto prazo com o pressuposto de que a reabilitação é um processo contínuo, ajustável conforme as necessidades e tolerância do doente, com uma duração variável (pode ir desde alguns meses até anos de tratamento).
Um programa de reabilitação tem especificidades próprias e uma duração variável, devendo ser iniciado o mais cedo possível (geralmente ainda no internamento hospitalar, mas com continuidade no exterior), pois ajuda significativamente na recuperação das funções e capacidades perdidas. Fundamentado no prognóstico de recuperação funcional do doente, são definidos os objetivos, escolhidas as intervenções terapêuticas e prestados esclarecimentos ao doente e sua família relativamente às dificuldades e necessidades previsíveis a médio-longo prazo.
O que pode afetar a reabilitação de um AVC?
A recuperação e a reabilitação de um AVC variam de pessoa para pessoa. O prognóstico funcional deste tipo de patologia é complexo e depende de vários fatores, tais como:
Estado de saúde e funcional prévio;
Gravidade do próprio AVC;
Fatores físicos, isto é, quantidade e gravidade de áreas motoras e cognitivas afetadas;
Fatores emocionais, como a motivação do próprio utente no processo de reabilitação;
Fatores terapêuticos que dependem da qualidade e da multidisciplinaridade da equipe profissional encarregada da recuperação;
Início do programa de reabilitação, ou seja, quanto mais cedo o processo começar, mais favorável será o prognóstico;
Apoio e integração da família do doente no processo de recuperação.
Principais sequelas (défices neurológicos), complicações no AVC
De forma sucinta:
Disfagia: consiste na dificuldade em engolir alimentos e, em casos mais graves, até a própria saliva. Exige uma avaliação inicial, orientação e seguimento, mas, geralmente, com o seguimento adequado apresenta um prognóstico favorável.
Apraxia: perturbação no planeamento e execução de gestos intencionais (p.ex. dificuldade em escovar o cabelo, usar um copo ou uma palhinha para beber, vestir um casaco). Pode interferir com o processo de reabilitação se não for diagnosticado. A força, sensibilidade e coordenação estão preservadas.
Inatenção hemiespacial seletiva (Neglect): dificuldade em prestar atenção, explorar e reconhecer estímulos realizados no lado do hemicorpo afetado (mais frequentemente o esquerdo).
Fraqueza muscular – o défice de força muscular pode afetar diferentes segmentos e apresentar vários graus de severidade e impacto funcional. A alteração da força está associada a alterações ao nível da mobilidade articular, do tónus muscular, sequência de ativação motora, capacidade de marcha, etc. As estratégias de reabilitação neuromotora são essenciais para o sucesso terapêutico.
Défice visual – perturbações visuais como visão em túnel, diplopia (visão dupla) ou cegueira parcial são muito frequentes;
Ataxia – consiste na perda de controlo ou coordenação dos movimentos voluntários. Pode interferir nas AVD (dificuldade em alcançar/manusear um objeto – p.ex.: cumprir as etapas necessárias para lavar os dentes: alcançar e colocar o dentífrico na escova dos dentes e conduzi-la até à boca,…) e na segurança da marcha.
Três sinais de alerta de um AVC
Boca torta.
Peça para dar um sorriso a boca se move só para um lado
Dificuldade na fala
Peça para repetir uma frase
Não conseguirá falar com fluência a frase
Perda de força em um dos braços
Peça para levantar e mante os braços erguidos
Um dos braços vai manter-se caído
Ao primeiro sinal, procure ajuda médica imediatamente
Os sintomas mais comuns aliados aos sinais são: Desequilíbrio, dificuldade para caminhar, dor de cabeça súbita e severa, vertigem, da visão e da sensibilidade. Se sentir algum desses sintomas, procure ajuda médica imediatamente. O tempo é crucial quando se trata dessa doença: uma vez com o quadro instaurado, uma pessoa com AVC pode perder milhões de neurônios por minutos devido a falta de oxigenação no cérebro.
O atendimento imediato busca minimizar os impactos do AVC.
É fundamental o internamento imediato , não só para diminuir o risco de complicações do próprio AVC, como para determinar a causa do mesmo, permitindo assim o seu tratamento adequado e redução do risco de recorrência.
Existe atualmente um tratamento emergente para o tipo de AVC mais comum, o AVC isquémico. Este tratamento, designado por trombólise endovenosa, deve ser efetuada nas primeiras quatro horas e meia após o início dos sintomas. O tratamento consiste na administração endovenosa (ou intravenosa) de um medicamento que irá tentar dissolver o coágulo que obstruiu uma artéria cerebral, causando o AVC.
A administração deste tratamento após as quatro horas e meia iniciais não é eficaz, podendo até ser perigoso, por causar hemorragias.
De acordo com as características do AVC, em casos selecionados, pode ser tentada outra forma de tratamento entre as quatro horas e meia e as 24 horas após início dos sintomas – trombectomia mecânica – que consiste na tentativa de remoção do coágulo com um cateter.
Durante o internamento é boa prática realizar vários exames ao aparelho circulatório assim que possível, recorrendo a técnicas de neurossonologia (por exemplo, Doppler transcraniano, ecodoppler dos eixos carotídeos e vertebrais), cardiologia (por exemplo, Holter, ecocardiograma), e neurorradiologia (por exemplo, ressonância magnética crânio angiografia arterial).
Fontes – Americam Stoke Association- EUA, Stroke foundation –Australia, Hospital da Luz-PT