VITÍMAS DE ACIDENTES NO TRANSITO, UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA

A cada 1 hora, 5 pessoas morrem em acidentes de trânsito no Brasil, afirma o Conselho Federal de Medicina.

Hoje, os acidentes de carro estão no ranking dos maiores problemas de saúde, causando anualmente meio milhão de mortes e 15 milhões de feridos. Segundo a análise do CFM, no Brasil a cada hora, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento grave decorrente de acidente de transporte terrestre. A cada 2 minutos 1 ser humano sofre sequelas por causa de ferimentos. 34 mil pessoas são mortas por ano nos acidentes, o que equivale a 1 morte a cada 15 minutos

Mais de 1,6 milhão de pessoas ficaram feridas nos últimos 10 anos, ao custo de R$ 3,2 bilhões ao Sistema Único de Saúde (SUS). Ao ano gasta em torno de R$ 200 milhões com saúde pública, de pessoas atendidas no SUS, nesta conta não entra o atendimento ofertado pelos hospitais particulares, as indenizações e a previdência.

Segurança no trânsito.

Os acidentes de carro já são a principal causa de morte e de problemas de saúde em termos globais, de acordo com a OMS. Mais pessoas são mortas ou feridas no trânsito do que em todas as guerras que estão acontecendo no globo.

O Brasil está na quarta posição entre os países com mais mortes em acidentes de trânsito no mundo, ficando atrás apenas da China, Índia e Nigéria.

Os três pilares da segurança no transito

Os especialistas avaliam a segurança viária, levando em conta três aspectos: vias, veículos e fator humano. “Evoluímos bastante nos últimos anos em equipamentos de segurança dos automóveis e nas condições das vias. Mas o fator humano ainda preocupa”, diz Aurélio Ramalho, presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária.

A imprudência dos motoristas causam cerca de 90% dos acidentes no mundo todo. “Se uma via está mal pavimentada ou tem pouca sinalização, é obrigação do condutor reduzir a velocidade e se adaptar para evitar acidentes”, comenta. “No trânsito a minha imprudência, negligência, imperícia irão gerar acidentes que “inundarão” os hospitais com feridos, necessitando mais médicos para atendê-los; “inundarão” as vias por congestionamentos causados pelo acidente e gerarão mais caos e poluição. A herança será mais “inundação” do déficit público, com gastos hospitalares, previdenciários e trabalhistas que acometem toda a sociedade”, assegura. “Isso sem contar a dor de cada família afetada pelo acidente”, finaliza.

O impacto econômico pode ser sentido, direta ou indiretamente, por toda a população, já que o montante representa 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O estudo leva em consideração os valores gastos em cuidados com saúde, indenizações, perda de produção por lesão ou morte.

Menos veículos, mais segurança!

Nos primeiros meses do isolamento social, que aconteceu em função da pandemia de Covid-19, a redução na circulação dos veículos impactou positivamente o número de acidentes e vítimas do trânsito em todo o País. Menos carros circulando é importante para a segurança, porém no Brasil o que se verifica é um aumento da frota a cada ano, devido as precárias condições dos transportes coletivos e pela enorme extensão territorial, onde tudo acaba sendo longe!  

Soluções para um trânsito seguro

Conscientizar as pessoas sobre o respeito às regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) seria fundamental para um trânsito mais seguro. Como uso do cinto de segurança, não usar o celular, nem ingerir bebida alcóolica ao dirigir, fazer revisões do veículo, não trafegar com veículos sem as condições de direção.

As comunidades europeias sugerem, por exemplo, privilegiar os vulneráveis (pedestres, ciclistas e motociclistas) no traçado de vias, em vez de veículos. Outra proposição é rever a regulamentação de equipamentos de segurança individual dos diversos meios de transporte.

Especialistas em mobilidade alertam também que é um erro considerar que o problema é apenas cultural. “A visão de que só a imprudência dos motoristas é responsável pela tragédia que representa o trânsito no Brasil é um limitador das ações que podem e devem ser tomadas para evitar mortes e feridos no trânsito por partes das autoridades, como por exemplo a melhora e a ampliação do transporte coletivo”, diz Sérgio Avelleda, diretor de mobilidade do programa de cidades do WRI Global.

De acordo com o especialista, cada vez mais cidades e países no mundo adotam uma metodologia chamada Visão Zero para eliminação de mortes e ferimentos no trânsito. “Ela parte do princípio de que nenhuma morte prematura é aceitável. E leva em conta dois fatores fundamentais: que as pessoas são passíveis de erro e que são frágeis”, diz Avelleda.

De acordo com a metodologia, todos os atores – e não apenas motoristas ou pedestres – são responsáveis por evitar mortes e ferimentos graves. “O poder público tem um papel preponderante para eliminar mortes e feridos graves. Desenho das ruas, limites de velocidade, cruzamentos, ou seja, toda engenharia de trânsito deve estar voltada para não permitir que um erro ou uma distração condene alguém à morte ou à invalidez”, explica Avelleda.

Medidas para um trânsito mais seguro

Um estudo do  WRI Ross Center for Sustainable Cities e o Banco Mundial desenvolveram uma série de medidas para promover um trânsito mais seguro e humano no Brasil. São elas:

Formalização de um pacto nacional pela segurança no trânsito, com a participação da União, dos Estados e dos Municípios.

Engenharia de trânsito incorporando a metodologia Visão Zero e tornando as vias mais seguras, priorizando os pedestres, levando em conta desenho, sinalização e redução de velocidade.

Dar prioridade ao transporte coletivo e à mobilidade ativa.

Fiscalização constante para punir comportamentos imprudentes, por meio de radares e agentes de fiscalização.

Maior rigor na formação e no processo de habilitação dos motoristas.

Envolvimento de toda a sociedade na solução do problema, como poder público, indústria automobilística, imprensa e sociedade civil.

Várias publicações de saúde já estão mudando o discurso tradicional sobre prevenção de trânsito. Na verdade as campanhas preventivas faltam dar ênfase, aos feridos, que é em número muito infinitamente maior do que mortos e que estes que sobrevivem ficam com sequelas gravíssimas.

Os acidentes de transito na verdade tem de serem tratados como um fator de saúde pública, até pelo fato que ele pode ter início na via pública, mas ele termina a ocorrência no hospital, com o salvamento ou não das vidas dos envolvidos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *