UFMG VAI PRODUZIR UMA VACINA NACIONAL CONTRA O COVID

O primeiro imunizante nacional contra a covid-19 está sendo desenvolvido no  Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O imunizante 100% nacional adota tecnologia semelhante à da Universidade de Oxford.

Recentemente foi firmada parceria é entre a UFMG, o governo de Minas Gerais e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para acelerar e garantir a produção de vacinas no estado, disse, em entrevista à Agência Brasil, a professora Ana Paula Fernandes. Segundo ela na fase inicial do projeto e nas alternativas buscadas pelo CT-Vacinas, já foram gastos R$ 5 milhões da universidade.  Para as fases 1 e 2 – testes em animais -, o valor dos investimentos oscila entre R$ 15 milhões e R$ 30 milhões. A etapa clínica, que envolve os testes em humanos, é bem mais cara, alcançando recursos em torno de R$ 100 milhões. Ana Paula destacou que esse investimento, embora seja elevado, “é menor do que aquele que está sendo feito para a transferência das tecnologias de fora”. Além do imunizante contra a Covid-19, o acordo tem o objetivo de ampliar a estrutura para a produção de outros antídotos nacionais, reduzindo a dependência do Brasil em relação a outros países.

A UFMG está aberta a outros parceiros que poderão participar do projeto, entre os quais a Fundação Ezequiel Dias (Funed), que tem uma fábrica para produção de vacinas.

No ano passado, a equipe do CT-Vacinas identificou os antígenos  e a melhor composição nesse sentido. “Fizemos testes em animais, inclusive em animais transgênicos [geneticamente modificados], necessários para esse tipo de análise”, informou Ana Paula diretora do CT Vacinas da UFMG.

CT-Vacinas desenvolve imunizante com base em diferentes vetores virais

A equipe já está se preparando para lançar os estudos clínicos, seguindo os parâmetros da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para depois começar os testes em humanos.

Para definir qual vai ser a composição da vacina, serão feitos ainda  testes de toxigenicidade em animais, de modo a cumprir todos os protocolos necessários. “Será preparado um lote piloto para testagem em animais, e que servirá também para posterior testes clínicos humanos”, disse a professora da UFMG.

A perspectiva é que, havendo a garantia dos investimentos, os testes em humanos poderão serem realizados ainda neste ano de 2021, disse a professora que frisou que o valor investido , “é menor do que aquele que está sendo feito para a transferência das tecnologias de fora”.

Esse processo vai ser, realmente, um marco histórico, que vai poder ser replicado para outros processos, para que o Brasil tenha independência nessa área estratégica”, disse a coordenadora do CT-Vacinas.

De acordo com Ana Paula, todos os países do grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), à exceção do Brasil, “conseguem abocanhar, digamos assim, uma fração considerável do mercado de insumos em vacinas mundialmente”, o que repercute de maneira positiva em suas balanças comerciais. “O Brasil tem competência para fazer isso. Precisa é colocar os elos da cadeia conectados”.

 Ao contrário do Instituto Butantan ou da Biomanguinhos, que estão trazendo tecnologia de fora e produzindo no Brasil, o CT-Vacinas está construindo um processo do início ao fim.

A coordenadora disse que a construção desse processo, o domínio dessas plataformas de tecnologia, são estratégicos, “e o Brasil não tem isso”. Ela lembra que todas as vacinas usadas em humanos no Brasil são de tecnologias importadas.

Ana Paulo disse que a equipe do CT-Vacinas já dominou as diferentes plataformas para produção de vacinas em vetores virais. No momento, segundo a professora, a partir da produção da primeira vacina nacional, o indicativo é que serão necessárias duas doses para imunização da população. “A nossa  vacina será muito mais fácil de ser produzida, porque o sistema de produção dela não tem a complexidade, por exemplo, de uma Coronavac”, tratando-se de uma alternativa mais simples e mais viável.

Ana Paula acredita que ao longo dos próximos meses serão concluídos os estudos clínicos da fase 1 e 2, de imunogenicidade e segurança em humanos, prevendo para o segundo semestre o início da fase 3, em pessoas. A nova vacina deverá estar disponível no próximo ano.

Segundo Ana Paula, o vírus vai continuar circulando e variantes novas vão surgir, o que demandará  “possivelmente em uma sistemática de doses anuais para coronavírus, assim como é para Influenza, podem serem necessárias ”.

A reitora da UFMG, Sandra Almeida, não tem dúvidas que a parceria com o MCTI e o governo mineiro “será fundamental não apenas para a continuidade do desenvolvimento do imunizante contra o coronavírus, mas também para as pesquisas com outras vacinas a longo prazo”. Sendo importante a parceria para “garantir investimento contínuo”.

Ana Paula Fernandes destaca que o CT-Vacinas e outros centros brasileiros têm plena capacidade de produzir vacinas e assim reduzir a necessidade de importar esses produtos. “É preciso quebrar a cultura de importação de imunizantes que impera no Brasil. Os resultados promissores que obtivemos até agora demonstram que temos competência multidisciplinar, dominamos as diversas plataformas vacinais e contamos com ferramentas que estão disponíveis nos grandes centros de pesquisa estrangeiros”, afirma a cientista, ressaltando ainda a importância do financiamento de longo prazo que viabilizou as pesquisas nesse campo, ao longo das últimas décadas.

A UFMG e o governo de Minas Gerais contarão com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para o desenvolvimento de vacinas no estado. A reitora Sandra Regina Goulart Almeida e o vice-governador Paulo Brant foram recebidos na última quinta-feira (4 de março ), em Brasília, pelo ministro Marcos Pontes, e ficou acertada parceria que deve promover incremento nas pesquisas realizadas pelo Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas) da UFMG e instituições vinculadas ao governo do estado.

Na ocasião o ministro Marcos Pontes reafirmou que a vacina, desenvolvida com tecnologia nacional, “é importantíssima para o estado [de Minas Gerais] e para o país e tem grande relevância para a ciência brasileira” e se comprometeu via ministério de ciência e tecnologia em colaborar com a UFMG.

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